Três em cada quatro agentes penitenciários têm saúde mental afetada pela pandemia de Covid-19

FGV realizou survey online com 613 profissionais da polícia penal de todas as regiões do país

O avanço da disseminação do novo coronavírus nas penitenciárias encontra policiais penais e agentes prisionais despreparados e abalados emocionalmente para lidar com a situação da pandemia de Covid-19. A maioria destes profissionais (73,7%) relatam ter a saúde mental afetada por causa da pandemia. O apoio institucional para lidar com essas emoções chegou a apenas 5,1% deles.

Esses são os resultados da segunda fase de pesquisa com agentes penitenciários realizada pelo Núcleo de Estudos da Burocracia, da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV). A survey online com 613 profissionais da polícia penal de todas as regiões do Brasil, aplicada entre os dias 15 de junho e 1º de julho, coletou informações sobre a percepção dos profissionais sobre os impactos da pandemia de Covid-19 no seu trabalho, no seu bem-estar e nas relações com os presos.

Os agentes prisionais relatam mudança nas interações com os presos (85,3%) e nas dinâmicas de trabalho (80,4%), com aumento de protocolos pessoais de higiene, distanciamento dos colegas de trabalho e aumento da demanda de serviço por causa da redução dos servidores na ativa. O distanciamento/frieza e o medo com relação aos presos são os sentimentos mais comuns, respectivamente, para 49% e 47% dos respondentes.

Na percepção de 82,2% dos agentes prisionais, as tensões entre presos aumentaram. A falta de contato com os familiares, de informações sobre o cenário real da pandemia, o medo de se contaminarem, a má alimentação e o isolamento estão entre os motivos descritos pelos agentes para o aumento dessa tensão. “Se pensarmos na perspectiva deste trabalhador, a situação é muito crítica. Ele trabalha em um lugar sabidamente insalubre, com superlotação e já sob tensão na normalidade. Durante a pandemia, estas condições se agravam, gerando alto sofrimento, ansiedade e stress”, afirma Gabriela Lotta, uma das coordenadoras da pesquisa. 

Despreparo e medo

O medo de contrair o novo coronavírus se manteve como sentimento predominante nas duas fases da pesquisa. Nesta segunda etapa, 80% de respondentes relatam temer a contaminação. O despreparo para lidar com a pandemia de Covid-19 aumentou em relação à fase anterior, passando de 61% para 69% dos agentes.

O relatório afirma que a percepção de despreparo pode estar relacionada com o avanço da pandemia nos presídios. A maioria (87%) dos agentes penitenciários afirmaram conhecer um colega de trabalho que foi diagnosticado com Covid-19 e 67,8% conhecem algum preso que contraiu a doença. Na primeira fase da pesquisa (realizada em abril), 54% dos agentes conheciam alguém contaminado pelo novo coronavírus. “Estes dados mostram que o tamanho da contaminação dentro dos presídios deve ser ainda maior do que está sendo notificado. Os problemas clássicos de falta de dados e falta de transparência do sistema também aparecem de forma muito mais exacerbada durante a pandemia”, aponta Giordano Magri, outro coordenador da pesquisa.

Falta de EPIs e testes de diagnóstico 

O acesso a equipamentos de proteção individual aumentou em relação a abril, passando de 32,5% para 48,8% dos profissionais que alegam ter recebido EPIs para se proteger. Ainda assim, mais da metade dos agentes continua sem receber o equipamento. Os níveis mais alarmantes de falta de equipamento estão na região Norte, onde apenas 26,3% dos agentes relatam ter recebido EPIs. O nível de treinamento para enfrentar a pandemia continua baixo: apenas 12,1% dos respondentes alegaram receber orientações formais para o enfrentamento do novo coronavírus. 

Essencial para conter a disseminação da doença, apenas 23,2% dos profissionais das penitenciárias afirmam ter sido testados para a Covid-19. Na região Sudeste, a situação é ainda mais alarmante: apenas 10% dos profissionais foram testados, o que pode estar contribuindo para uma subnotificação dos casos na região, segundo os pesquisadores.

De Bori

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