Entrevista: “Senado não pode continuar sendo a aposentadoria de luxo para ex-governador”, diz pré-candidato ao Senado pelo PT

Paulo Romão, pré-candidato ao Senado Federal pelo Partido dos Trabalhadores, lembra do último senador eleito pelo PSB: “A última vez que elegemos um senador do PSB foi um completo desastre”

De defenestrado das últimas eleições gerais, para partido cobiçado nas eleições de 2022. Esse é o PT que conseguiu voltar ao centro das discussões políticas do país. Somente um detalhe não mudou no Maranhão: a capacidade do PT do Maranhão estar sempre alinhado ao projeto político de outros partidos e, por vezes, com pautas distintas com as defendidas pela militância e presentes no estatuto do partido. 

Paulo Romão conheceu o PT em 2000 e desde então nunca deixou o partido

Com o propósito de fazer história no partido, o pré-candidato ao Senado Federal, Paulo Romão (PT), quer ser o nome petista na disputa majoritária e alcançar uma cadeira na Câmara Alta. Em suas palavras, Romão defende que o Senado precisa “ser arejado do ponto de vista geracional” e lembrou a última vez que o PSB do Maranhão elegeu um senador.  “A última vez que votamos num candidato a senador pelo PSB, isso em 2014, elegemos uma vasilha chamada Roberto Rocha. Foi um completo desastre e repetir velhos erros não dá mais. É justamente essa vaga que o mesmo PSB pleiteia novamente. Eu não vejo o Senado Federal como espaço de aposentadoria de luxo de ex-governadores”, cutucou Paulo Romão, ao passo que a crítica também atinge o governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), que deixou o ideológico PCdoB depois de 15 anos para garantir espaço em uma sigla com mais afinidade com a mídia tradicional.

Romão questiona o motivo de um jovem com suas origens não poder ter as mesmas credenciais de outros candidatos que podem ter apoio do próprio Partido dos Trabalhadores. “Eu coloco minha capacidade de formulação para ser testada no parlamento a favor da sociedade . Eu estudei no Liceu Maranhense, me formei Sociólogo na Uema, sou filho da escola pública e por que um jovem como eu não pode chegar ao Senado Federal?  Eu tenho plena consciência que não sou herdeiro político com algum sobrenome famoso na política . Eu não tenho fortuna familiar para torrar numa eventual campanha, tão pouco tenho relação com a agiotagem que é um espectro que ronda a política maranhense”, se posicionou.

Com o governador Flávio Dino querendo lotear o PT, mesmo sendo quadro do PSB, o pré-candidato ao Senado Federal, Paulo Romão, terá dificuldades de romper com o pragmatismo instalado no partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Eu tenho ideias para debater, quero contribuir com o desenvolvimento do estado, para a superação deste estado de vulnerabilidade e pobreza a que historicamente fomos submetidos. Eu acredito que minha trajetória é igual a de qualquer outro maranhense que luta para vencer na vida quando vem do interior para a capital”, define.

Na entrevista a seguir, Paulo Romão fala da relação do PT com o senador Weverton Rocha (PDT) e o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), protagonismo petista no Maranhão, interferência de Flávio Dino no PT, a filiação de Felipe Camarão no PT e outros assuntos. Confira.

A CARTA POLÍTICA – Chegou a hora do PT do Maranhão ter um Senador da República?

PAULO ROMÃO – O PT é um partido necessário para a democracia. Sua contribuição dada ao país sempre teve forte apoio do  eleitorado maranhense e mais uma vez as pesquisas feitas até aqui sinalizam que o Presidente Lula poderá ter  em torno de 70% dos votos no Maranhão e se o maranhense vota no PT  para presidir o Brasil, pode votar também num candidato ao senado federal pelo PT. Nossa pretensão de candidatura  irá fazer este debate no partido e na sociedade. Portanto, já estamos atrasados nesta tarefa e penso eu  que chegou o momento de dizer para a sociedade que um jovem negro e de esquerda pode ser ser Senador da República.

Para quem não participa da vida partidária do PT, parece que o partido tem um receio de protagonismo no Estado. Isso realmente acontece? Aqui no Maranhão, o partido tem medo de ser do tamanho que é?

Desde 1980, quando foi fundado, o PT adotou como tática histórica o lançamento de candidaturas próprias para dar visibilidade aos quadros do partido.  É isso que defendo, que o partido possa disputar eleições liderando candidaturas e não somente apoiando outros partidos como tem feito prioritariamente nos últimos anos. O protagonismo nacional que nos permitiu disputar e ganhar  presidência da república por quatro eleições consecutivas foi construído se apresentando à sociedade,  debatendo nossas ideias, acumulando a cada derrota eleitoral e firmando nossas lideranças em cada estado. Portanto, eu defendo que a gente retome este caminho que empoderou o PT em todo o país  e que se até aqui essas experiências sucessivas de apoiar candidaturas de outros partidos a cada eleição não trouxe protagonismo algum para o PT maranhense eu não vejo sentido para continuar a cada pleito convivendo com essa triste constatação. 

Depois das acusações de corrupção, impedimento da presidente Dilma, Lava Jato, você acredita que o “cancelamento” do PT acabou? Como estará o partido nas próximas eleições?

Há muito se anuncia a morte do PT e já são 41 anos de luta política e enfrentamentos. O PT sintetiza e espelha importantes frações da sociedade e como qualquer organismo vivo, também passa por mudanças que provocam intenso debate interno e por termos um nível de organização extremamente democrático, nossos rumos sempre serão debatidos internamente  e exaustivamente, eu diria,  segundo nossas regras estatutárias por meio das quais o PT se renova continuamente .Um partido que aprova paridade de gênero em suas direções em todos os níveis,  cotas geracionais para incluir jovens na direção do partido e cotas para a população negra e povos indígenas está antenado com o perfil da sociedade brasileira.  Após estes 20 anos de filiação, eu observo um  partido que está mais maduro e mais consciente de que os erros do passado custaram muito caro para a imagem pública do PT  e  nossa como  militantes que fomos alvos de todo tipo de agressão nas ruas e nas redes. Cancelamento não é o termo mais adequado para o que nos aconteceu. A quadrilha da lavajatista agiu criminosamente para eliminar o PT e os petistas do mapa da política. Foram vitoriosos  derrubando Dilma, tirando Lula da eleição de 2018 e elegendo Bolsonaro fraudulentamente. Mas  como não existe crime perfeito, deixaram rastros de ilegalidade que estão sendo devidamente reparados pela justiça naquilo que é possível.  O PT tem  vitalidade que a sociedade exige para se reposicionar e voltar a governar bem este país a partir de 1 de janeiro de 2023, que é a saudade do povo brasileiro. Estamos nos preparando para isso. 

Na filiação do governador Flávio Dino e do deputado federal Marcelo Freixo, o deputado fluminense disse que a próxima eleição será a mais importante porque pode ser a última. A democracia está em risco?

Bolsonaro já demonstrou não ter nenhum compromisso com a estabilidade democrática do nosso regime . Eu não estranharia um passo mais afobado no sentido de absolutizar sua presidência nesta reta final. Para além dos discursos inflamados para agitar o gado bolsonarista, há muita disposição desta turma em esticar a corda. Nós estaremos em luta para garantir que haja eleições gerais, estaremos em luta para fazer com que as instituições mostrem a que servem e para conter toda e qualquer pretensão autoritária que se apresentar.

O PT defende o debate dentro do partido. Quando a imprensa fala de eleição, de quem o PT vai apoiar no Maranhão, leva-se muito em conta a preferência do governador Flávio Dino. Qual será a influência que o governador terá na decisão com quem o PT deve caminhar?

O PT só debate tanto internamente porque nossas regras são democráticas e exigem isso para firmar nossas posições oficiais. O PT não tem dono nem dona ,nenhuma figura pública por mais importante que seja não vai chegar logo assumindo a presidência do partido, temos uma militância que debate ,vota e decide os rumos do PT,  em cada diretório, em todos os níveis. O partido integra a base de apoio do governador Flávio Dino e seguramente o nome que ele apresentar para sua sucessão terá apreciação partidária local e sobretudo da direção nacional. O que   precisa ficar muito claro é que o centro de nossa tática é a eleição do Presidente Lula e a formação de uma grande bancada no senado federal e na câmara dos deputados e neste aspecto o partido vem costurando muitos diálogos para dar viabilidade política e eleitoral a isso. Seja aqui no Maranhão ou em qualquer outro estado da federação, o centro de nossa tática que é eleger Lula preside as conversas e decisões que serão tomadas no tempo oportuno e seguindo nossos ritos estatutários

Você defende muito a renovação do partido. A filiação do Felipe Camarão faz parte da renovação que você defende?

A filiação de Felipe Camarão ao PT é ato do nosso esforço que objetiva ampliar nossa participação na Câmara dos Deputados. Embora eu discorde profundamente deste tipo de filiação exclusivamente para disputar eleições, pois entendo que fortalecimento partidário é dar condições políticas amplas para que militantes orgânicos e com bagagem partidária  possam disputar e ganhar eleições com  a força da máquina partidária, eu dou as boas vindas e reafirmo minha disposição para a luta conjunta e coletiva. 

Weverton ou Carlos Brandão?

Oficialmente a decisão terá o rito estatutário adequado e alinhado com o calendário eleitoral de 2022. Mas o palanque mais confortável do ponto de vista ideológico é com o PDT, com Weverton Rocha, posição que eu defendo e espero integrar a chapa majoritária como candidato a senador. Inclusive o próprio Lula abriu diálogo com o senador e isso a meu ver já sinaliza que debate que precisamos fortalecer daqui pra frente. São públicas as incompatibilidades nossas com o PSDB do Brandão e eu diria que uma eventual aliança PT\PSDB aqui seria algo incomum para o debate político dos últimos 20 anos, mas não seria algo inédito. Já fizemos alianças municipais em Açailândia, Carolina e Formosa da Serra Negra autorizadas pelo Diretório Nacional em conjunturas de profunda rivalidade nacional com o PSDB, imagine agora com estes acenos quase que diários  de FHC, Dória e outros tucanos de bico grosso, a exemplo do próprio Brandão que busca essa aliança com o apoio de Flávio Dino.

No final do ano passado, você colocou o seu nome à disposição para o Senado Federal. Há uma clara movimentação do governador Flávio Dino querer ser ungido ao cargo, você mantém sua candidatura mesmo depois desses novos movimentos?

Venho fazendo o debate partidário para viabilizar nossa pretensão de disputar o senado federal e conforme a dinâmica estatutária iremos aos encontros de tática e definição de candidaturas . Eu não tenho compromisso com pretensões totalitárias que negam a diversidade do debate político querendo impor candidaturas únicas em nosso campo político.  Eu li a entrevista do governador em que ele já se vê como senador eleito e a única coisa que consigo lembrar  do episódio anedótico do então senador FHC sentado na cadeira de prefeito de São Paulo em 1985  sem ter antes passado pelo crivo das urnas e todos já sabemos o que aconteceu. Este tipo de precipitação derivada da autoconfiança extrema  soa como arrogante demais , a meu ver.  Nossa luta neste momento tem sido para romper a invisibilidade do real debate político  dentro dos partidos   e a não inclusão do meu nome nas primeiras sondagens eleitorais é uma violência política inaceitável. Não há o que temer com a candidatura de um jovem negro, gay, de origem quilombola, vindo do interior para estudar na capital como tantos outros maranhenses que a gente conhece. Ou há ?

Nessa mesma oportunidade, ao lançar seu nome, você enviou uma carta ao presidente Lula, presidente Dilma e os presidentes partidários Augusto Lobato e Honorato Fernandes. Como foi recebido?

Eu reportei ao meu partido minha pretensão. Seria impossível colocar o bloco na rua sem comunicar aos que nos presidem. Eu sou um militante disciplinado e aprendi a ter respeito pelo partido e pelos nossos dirigentes. As reações foram diversas e variam entre o medo de protagonizar algo novo, apego profundo aos arranjos políticos atuais e esperança que embala nossas convicções de que um jovem como eu possa furar a bolha  e empolgar o eleitorado. 

Como você enxergou a condução da pandemia no Maranhão? Há uma politização da gestão da crise?

De modo geral, vejo um esforço institucional muito grande de estados e municípios para garantir a vacina. Por óbvio que até as pedras sabem que algumas candidaturas estão sendo gestadas tendo o SUS como palanque. No que tange à geração de renda , não vejo nenhuma política que promova inclusão produtiva das pessoas que perderam seus empregos e não tiveram nenhum tipo de auxílio financeiro para prover suas necessidades. Além disso, o valor ofertado pelo governo federal através dos auxílios é irrisório e os estados mesmo com enormes limitações fiscais ofertaram algo, embora pouco. Nos municípios onde a vida realmente acontece quase não houve ação do poder público para ajudar a população. Mas é preciso ressaltar que toda a gestão da pandemia no Brasil é um desastre anunciado, um genocídio programado e talvez a região nordeste figure como uma ilha de ‘excelência ‘ neste enfrentamento. Não houve em nenhum nível federativo a distribuição massiva de máscaras e álcool em gel, medida necessária para conter o avanço do vírus. Ficar em casa é um privilégio de classe que nem todos podem bancar.

Com sua candidatura ao Senado, como ela pode ser útil para pautas identitárias, geração de emprego e renda, direitos humanos, direito à infâncias, pautas que conversam com sua militância dentro do partido… ?

Eu sempre estou muito focado em políticas públicas de cidadania e direitos humanos. Todas as pautas que interessem à vida, ao bem-estar e à paz social me interessam muito. Do ponto de vista profissional como Sociólogo tenho muito acúmulo  nas politicas de enfrentamento ao tráfico de pessoas, prevenção ao trabalho escravo, prevenção à tortura, cidadania LGBT, prevenção ao suicídio e políticas públicas para crianças, adolescentes e jovens. A todo momento há violação de direitos e em todo lugar neste estado. Pessoas sendo traficadas para serem mulas de traficantes, para exploração sexual em outros países, para doação ilegal de órgãos, para o trabalho escravo. O comércio do tráfico internacional de pessoas é uma realidade altamente lucrativa e o  Maranhão integra essas rotas negativas. Pessoas estão sendo mortas em razão de sua identidade de gênero e orientação sexual, trabalhadores rurais estão sendo expulsos de suas terras por jagunços do agronegócio, a polícia militar tem violado direitos com muita frequência nas periferias maranhenses , mulheres estão sendo mortas por serem mulheres. Em plena pandemia cresceram absurdamente o número de estupros e abusos de crianças e adolescentes. Não vejo campanhas públicas permanentes pela prevenção destas vulnerabilidades, palavra chave para enfrentar qualquer vulnerabilidade. Temos que fazer a busca ativa da população vulnerável e instalar um estado de políticas públicas permanente. As promessas de uma vida melhor fazem as pessoas caminhar para a escravidão e para a morte. Não só concordo com uma renda mínima para que as pessoas possam sobreviver com dignidade, como defendo toda e qualquer política de transferência de renda com a projeção de contrapartidas. Toda política pública desta envergadura é para emancipar as pessoas, não criar uma rede de dependência eterna.

Eu parto do pressuposto que se  o dinheiro público não servir para ajudar as pessoas a sobreviver, para nada mais servirá. É dever do estado combater a fome, combater o desemprego, adquirir vacinas, imunizar toda a população, garantir renda mínima, garantir uma rede de proteção social e resgate da cidadania.

A desigualdade é a principal questão a ser enfrentada no Maranhão. Seja a mais escandalosa e obscena que é a concentração de renda, seja o acesso à internet tão demandado nesta pandemia em os ricos ficaram milionários, os pobres se reencontraram com a fome, quem vivia de aluguel conheceu o despejo e a vida só piorou. O fosso social que separa as castas no país só aumenta. Minha principal preocupação é o aumento da violência de estado para conter as desigualdades que não se consegue resolver com políticas públicas. Não há desigualdade que não seja combatida por meio da ação firme e decidida do estado. Da necessária prevenção à violência doméstica por meio de lei, decretos e portarias de enfrentamento à promoção de oportunidades educacionais para reduzir a vulnerabilidade social, tudo passa pela disposição do estado em garantir a dignidade da vida e o bem-estar. Essas pautas precisam chegar ao senado federal. 

Lula presidente? Para a esquerda só existe Lula? Como você enxerga o ‘cancelamento’ de nomes de centro-esquerda, como do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes?

Lula presidente porque o povo quer, precisa e confia e não somente porque a esquerda defende. Ciro não é opção de voto para quem deseja um país melhor e só reaparece para atacar o PT e o Lula e por último agora virou defensor bolsonarista de voto impresso. Ele se autocancela.

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