UOL – O ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), conseguiu unir petistas e bolsonaristas. Ambos os lados tentam desgastar seu nome por ele ser considerado uma alternativa na sucessão de Lula na Presidência da República e estar cotado para ocupar uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal).
O que acontece
- Dino e aliados próximos reconhecem a tentativa de fritura e identificam duas origens: “fogo amigo” de dentro do governo petista e críticas da oposição.
- A segurança pública tem sido usada pelos polos antagônicos da política brasileira para atacar o ministro. Mas os apoiadores de Jair Bolsonaro e Lula têm interesses e métodos diferentes para bater no ministro.
- Os bolsonaristas fazem oposição escancarada e usam todas as oportunidades possíveis para criticar a segurança pública, uma das áreas de atuação do Ministério da Justiça.
- Conseguiram que ele fosse o ministro recordista de convocações para dar explicações no Congresso, embora Dino não tenha comparecido ao último depoimento. Ele deve falar em plenário ainda neste mês.
- Já no PT, as estocadas são veladas. As alfinetadas surgem nas entrelinhas e buscam pavimentar o caminho para esvaziar o poder de Dino.
- O partido também tenta empurrar para o ministro os resultados negativos da segurança pública na Bahia, estado sob administração petista desde 2007.
Como o PT ataca Dino
- No Congresso Nacional, as críticas aparecem quando o microfone está desligado. O discurso para o público externo é de apoio irrestrito ao ministro da Justiça.
- Um exemplo citado sobre esses holofotes foi a reação imediata de Dino aos ataques nas escolas. Foram várias entrevistas na televisão para explicar um plano de enfrentamento ao problema que ofuscou o ministro da Educação, Camilo Santana (PT).
- Os petistas também têm tentado convencer Lula a dividir o Ministério da Justiça e Segurança Pública em duas pastas. A ideia foi ventilada após crises de segurança pública no Rio Grande do Norte, no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia.
- Isso possibilitaria emplacar aliados do PT que participaram da transição nos cargos a serem criados. Como justificativa, dizem que o governo federal “pararia de apanhar” no tema.
- A relação mais tensa de Dino dentro do governo seria com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que também cultiva fama de atritos com outros ministros.
- Na segurança pública, por exemplo, ambos deram declarações opostas quando o Anuário de Segurança Pública apontou a Bahia como o estado com a polícia que mais mata no Brasil.
- Rui Costa era governador da Bahia até o ano passado e os dados do Anuário se referem à sua gestão. Ele elegeu Jerônimo Rodrigues (PT) como sucessor, além de o estado ser administrado pelo PT desde 2007.
- O ex-governador criticou a fonte dos dados e sugeriu a criação de um banco de registros sob o comando do governo federal.
- O ministro da Casa Civil e o PT buscaram se isentar das críticas e transferir para Dino a responsabilidade do resultado ruim na segurança pública baiana.
- Dino respondeu de forma camuflada, mas pública. Ele defendeu as ações do ministério em um longo discurso durante a divulgação do programa nacional de combate ao crime organizado.
- Um petista contou ao UOL em caráter reservado que a possibilidade de Dino ir para o STF aumentou as críticas de alas do PT.
- Os petistas estariam mirando no ministro para que Jorge Messias, atual advogado-geral da União e fiel ao partido, fique com a vaga.
E como funciona do lado bolsonarista
- Associar Dino a resultados ruins na segurança pública é imperativo para o bolsonarismo, porque o tema é caro ao seu eleitorado. Desde o começo do atual governo, deputados e senadores da oposição tentam arranhar a imagem do ministro da Justiça.
- Presidente da Comissão de Segurança Pública da Câmara, o deputado Sanderson (PL-RS) chama Dino de “despreparado”. Acrescenta que sua gestão é “desastrosa”.
- Ele afirma que o ministro da Justiça escolheu quadro políticos para postos de assessoria —três ex-deputados que não foram eleitos. Policiais com experiência teriam ficado à margem da equipe.
- Sanderson disse também que a estratégia de segurança pública é mantida mesmo com resultados ruins. Na opinião do deputado, falta humildade para Dino reconhecer erros e corrigir a rota.
- O parlamentar também declarou que as polícias Federal e Rodoviária Federal estão desmotivadas. Segundo ele, devido a declarações feitas por Dino de que a PRF não deve fazer operações e que agentes da Polícia Federal serão presos se errarem.
- O deputado Evair de Melo (PP-ES) critica que não há inteligência por parte das forças policiais comandadas por Dino, que teria se afastado tanto da PF quanto da PRF.
Ele tirou poder da Polícia Rodoviária Federal e sai arrotando que a Polícia Federal é dele.
Evair de Melo, deputado bolsonarista, em alfinetada a Dino