Infectologista fala de cuidados para povos e comunidades tradicionais

Médico infectologista com experiência em comunidades camponesas dá orientações sobre cuidados com a COVID 19 para os povos e comunidades tradicionais

À medida que o coronavírus se alastra pelo Brasil, crescem os temores de que os povos e comunidades tradicionais sejam duramente afetados pela Covid-19.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde, as doenças respiratórias estão entre as doenças infectocontagiosas que afetam bastante os povos originários e as comunidades tradicionais brasileiras, o que torna a pandemia atual especialmente perigosa para esses grupos.

O médico infectologista, professor da Universidade Federal do Maranhão, Antonio Rafael da Silva, com larga experiência em comunidades camponesas e atuante no combate às epidemias de malária e calazar no Maranhão, dirige-se especificamente aos quilombolas, indígenas, pescadores, quebradeiras de coco babaçu, camponeses e extrativistas, coletividades atualmente com poucas orientações voltadas para sua realidade.

Ele orienta que elas devem atentar para as orientações gerais, respeitando o distanciamento social e todas as recomendações repassadas pelas OMS, Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.

“As orientações estão corretas e focam no isolamento social no sentido da proteção individual, da proteção coletiva, da proteção às pessoas que adoecem e da proteção aos profissionais do sistema de saúde”, enfatizou o infectologista.

Ele chama a atenção para três situações específicas: 1. Retorno de familiares que trabalham em grandes centros urbanos; 2. Trabalho nas roças, quando em regime de mutirão: e 3. Realização de reuniões, festas e cultos religiosos.

Sabe-se que muitas pessoas estão retornando para as comunidades tradicionais vindo de grandes centros urbanos de Estados com grandes focos de contágio, como SP, MG, RJ e CE.

“Essas pessoas que estão retornando devem ser recebidas com carinho, mas é essencial que fiquem em quarentena por 14 dias, em isolamento físico dentro de casa. Nesse tempo a doença pode se manifestar se a pessoa estiver contaminada. Após isso, elas devem seguir os mesmos cuidados das demais pessoas”.

Outro ponto que o profissional da saúde chama a atenção é como fazer o trabalho na roça, especificamente no preparo do plantio e na colheita, quando feito em sistema de mutirão.

“Se a pessoa for sozinha não há problema algum, mas se forem em grupo, é essencial que dividam as roças em linhas e mantenham distância de pelo menos dois metros um do outro.

Atenção também para a higienização das ferramentas usadas em partilha, como pás, enxadas e facões. Os objetos devem ser lavados com água e sabão antes de passarem de uma pessoa para outra. Elas devem levar um pedaço de sabão para as roças.”

O terceiro ponto que o infectologista chama a atenção é em relação à realização de reuniões, festas, missas e cultos religiosos nas comunidades. “Importante evitar festas, reuniões, missas e cultos religiosos coletivos.

Deve-se fazer a oração isoladamente. As festas e reuniões devem ser suspensas, pois é um risco reunir pessoas nesse momento com a ameaça do vírus”.

Por fim, o médico lembra que a COVID 19 se manifesta principalmente por febre por dois ou três dias, tosse seca, dor de garganta, mal estar e às vezes corrimento nasal, podendo a pessoas ter diminuída a sensibilidade aos gostos e aos cheiros.

A orientação é que com esses sintomas a pessoa fique em casa, em isolamento físico, sendo alimentada e bebendo água filtrada ou fervida.

Isso em 80% a 90% dos casos é suficiente para uma boa recuperação, pois são casos de sintomas leves que podem ser tratados em casa. Sobre a ida a postos de saúde ou hospitais ele orienta:

“as pessoas somente devem procurar o sistema de saúde quando apresentarem febre alta durante ou falta de ar. O isolamento social é a principal prevenção”, finalizou.

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